A idéia que a maioria de nós tem sobre o que eram as bruxas
Uma Bruxa é geralmente retratada no imaginário popular como uma mulher velha e encarquilhada, exímia e contumaz manipuladora de Magia Negra e dotada de uma gargalhada terrível. É também muito popularizada a imagem da bruxa como a de uma mulher sentada sobre uma vassoura voadora, ou com a mesma passada por entre as pernas, andando aos saltitos.

Quem eram as bruxas?
Eram pessoas acusadas de fazer feitiços e usar poderes sobrenaturais, supostamente obtidos em rituais satânicos e pactos com demônios. Muitas dessas histórias foram alimentadas por escritores românticos do século 19, que criaram mitologias sobre essas figuras - a mulher que entra pelo telhado para chupar o sangue de crianças, bebe e gargalha voando de vassoura... Em povoados mais supersticiosos, a coisa era mais complicada: na França do século 15, há registros de epidemias que geraram uma espécie de histeria coletiva - o povo culpava as bruxas pelas doenças. Aí, bastava a mulher ser esquisitona para ser considerada bruxa, perseguida e levada à fogueira. Um caso de preconceito explícito - e numeroso.




História das Bruxas
Na Antiguidade, um período histórico onde quase não existiam médicos, era comum que pessoas recorressem a ritos mágicos para curar suas enfermidades. Quando a Europa se converteu ao cristianismo, todas as demais crenças passaram a ser consideradas heréticas. Todavia isso não impediu que algumas camponesas usassem de seus conhecimentos sobre ervas medicinais, passados de mãe para filha e de tia para sobrinha, para realizar todo tipo de trabalho, seja como terapeutas, parteiras e até mesmo como adivinhas. Geralmente, eram mulheres extremamente pobres, viúvas ou solteiras. Claro que muito do que elas faziam era fruto de mera superstição, como receitar sêmen de cavalo para provocar gravidez ou ovos com urina para picadas de inseto, porém muitas das técnicas utilizadas por elas seriam comprovadas cientificamente depois.
Contudo, as coisas mudariam radicalmente no século XIV. Em 1315, catástrofes climáticas arrasaram colheitas em toda Europa, matando um quinto da população e levando milhares de pessoas a recorrer ao canibalismo. Décadas depois veio um mal ainda pior: a Peste Negra. A epidemia exterminou um terço dos habitantes da Europa, cerca de vinte milhões de pessoas. Na mentalidade atrasada da época, alguém teria desencadeado todas essas desgraças, era precisa encontrar o culpado. E a culpa recaiu sob as curandeiras, agravado pela Inquisição anos depois, que instaurou a caça à essas mulheres, agora chamadas de bruxas.


Em pouco tempo centenas de pessoas foram presas pela acusação de feitiçaria. No julgamento, os inquisidores buscavam pelas marcas do Diabo, ou seja, verrugas, sinais de nascença, estrabismo ou simples cicatrizes. Depois eram torturados até confessarem seus delitos, confissão feita mais para se livrar da tortura do que por real culpa e admitiam coisas como haverem assassinado bebês recém-nascidos, além de dizer nomes de outras supostas bruxas. Só então eram queimadas vivas em praça pública. Seus bens iam todos para a Igreja, claro.
As condenações passaram a ocorrer em tão grande número que o pensamento geral era que as bruxas estavam em todos os lugares e qualquer pessoa era passível de desconfiança, num clima de paranóia crescente. Foi a partir desses acontecimentos que se desenhou o mito das bruxas como conhecemos. Mulheres de chapéus pontudos e vassouras voadoras, que faziam poções em grandes caldeirões eram capazes de transformar suas vítimas em ratos e sapos.

A caçada às bruxas acabou de vez perto do final do século XVIII. Em 1682, a amante do rei francês, Luís XIV, a marquesa de Montespan, foi acusada de satanismo. Para evitar a condenação dela ele decretou a proibição da perseguição contra as bruxas na França. Logo, outros governantes fizeram o mesmo. A última condenação ocorreu só cem anos depois, em 1782, sete antes do início da Modernidade no Ocidente, período marcado pelo avanço da ciência em detrimento das superstições.

As Bruxas de Salém
Há três séculos, o vilarejo de Salém, na colônia americana da Nova Inglaterra, foi tomado de assalto por uma onda de intolerância e de fanatismo religioso, vitimando quase vinte pessoas. Esse infeliz incidente, e a caça às feiticeiras que então se desencadeou, serviu como um alerta para que os princípios de liberdade religiosa fossem assegurados na história dos Estados Unidos.

Início de tudo
"É uma certeza que o demônio apresenta-se por vezes na forma de pessoas não apenas inocentes, mas também muito virtuosas." - Rev. John Richards, século XV
Mister Parris, o pobre reverendo de Salém, estava exasperado. Betty, a sua única filha de apenas nove anos, acometida por uma série de estranhos espasmos, jogou-se petrificada sobre o leito, negando-se a comer. Naquela perdida cidadezinha, ao norte de Boston, não existiam muitos recursos além de um velho médico que por lá se perdera. Chamado para diagnosticar a doença, atestou para o aterrado pai que a menina estava era enfeitiçada e que nada lhes restava a fazer além de uma boa e sincera reza. A conclusão do doutor correu de boca em boca e em pouco tempo os pacatos habitantes do pequeno porto tomaram conhecimento de que Satanás resolvera coabitar com eles.
Simultaneamente outras garotas, as amiguinhas de Betty, começaram a apresentar sintomas semelhantes aos da filha do clérigo. Rolavam pelo chão, imprecavam, salivavam, grunhiam e latiam. Foi um pandemônio. Pressionado a tomar medidas, Parris resolveu chamar um exorcista, um caçador de feiticeiras, que prontamente começou sua investigação.
No século XVII, poucos punham em dúvida a existência de bruxas ou de feiticeiras porque uma das máximas daqueles tempos é de que "é uma política do Diabo persuadir-nos que não há nenhum Diabo".
A inquisição
Inquiridas por Cotton Mather, que iria se revelar uma espécie de Torquermada americano, as garotas contaram que o que havia desencadeado aquela desordem toda fora uns rituais de vodu que elas viram Tituba fazer. Essa era uma escrava negra que viera das Índias Ocidentais, e que iniciara algumas delas no conhecimento da magia negra. Durante o último longo inverno da Nova Inglaterra, ela apresentara várias vezes os feitiços para uma platéia de garotas impressionáveis. Educadas no estreito moralismo calvinista e no ódio ao sexo que o puritanismo devota, aquele cerimonial animista deve ter despertado as fantasias eróticas nelas. Provavelmente culpadas por terem cedido à libido ou apavoradas por sonhos eróticos, as garotas entraram em choque histérico. Seja como for o caso, merecia ser ouvido num tribunal. Toda a Salém se fez então presente no salão comunitário.
O tribunal


Quando colocadas num tribunal especial, presidido pelo juiz S. Sewall, e inquiridas pelos juízes Corwin e Hathorne, as meninas começaram a apontar indistintamente para várias pessoas que estavam na sala apenas como curiosas. O depoimento mais sensacional foi o da escrava Tituba, que não só confessou suas estranhas práticas como afirmou que várias outras pessoas da comunidade também o faziam.
A partir daquele momento, a cidadezinha que já estava sob forte tensão se transformou. Um comportamento obsessivo tomou conta dos moradores. Uma onda de acusações devastou o lugarejo. Vizinhos se denunciavam, maridos suspeitavam das suas mulheres e vice-versa, amigos de longa data viravam inimigos. Praticamente ninguém escapou de passar por suspeito, de ser um possível agente do demônio. Não demorou para que mais de 300 pessoas fossem acusadas de práticas infames. O tribunal que entrou em função em junho de 1692 somente parou em outubro. Resultou que dezenove pessoas foram enforcadas. Mais tarde, o juiz Sewall confessou que pensava que as suas sentenças haviam sido um erro.