Quase 2 mil anos após ter semeado discórdia entre os primeiros cristãos acerca da verdadeira “missão” de Judas de Kariot (Kerioth, ou Iscariotes, derivado do hebraico Ish Kerioth: Homem de Kerioth, cidade ao sul de Judá), surge à luz do mundo o sagrado Evangelho Segundo Judas. Esse manuscrito, encontrado na década de 50, contém 62 folhas de papiro escritas no dialeto copta, a antiga língua dos cristãos do Egito, e deverá ser publicado brevemente em várias línguas, para o bem da Verdade.

“Após termos recebido os resultados dos testes de datação com Carbono-14, concluímos que este texto é ainda mais antigo do que se pensava e remonta a um período entre o fim do século 3º e início do século 4º”, explica o diretor da Fundação Mecenas, Mario Jean Roberty, que se dedica à divulgação de descobertas arqueológicas.

Segundo alguns informes vistos na imprensa, investigadores da Universidade de Genebra, na Suíça, começaram a traduzir esse Evangelho. O trecho-chave do documento é atribuído a Jesus, dizendo a Judas: "Tu vais ultrapassar todos. Tu sacrificarás o homem que me revestiu". Segundo o pensamento gnóstico, esta frase significaria que com a delação Judas estaria contribuindo para que Jesus Cristo pudesse libertar o seu espírito, livrando-se de seu invólucro carnal, o corpo. A existência do Evangelho Segundo Judas (Judas, em hebraico, significa Agradecimento), cujo original é verossímil em grego, foi atestada pelo primeiro bispo de Lyon, Irineu, que no século 2º havia classificado esse texto como “herético”. “É a única fonte que permite saber que tal evangelho existiu”, afirma Roberty, que não quis falar sobre o conteúdo do texto antes da sua publicação. Para o professor Rodolphe Kasser, um dos responsáveis da Universidade de Genebra pela tradução dessa antiquíssima obra gnóstica, o texto foi encontrado no Egito, aparentemente numa escavação clandestina.

Mas por que esse Evangelho, além de outros tantos, não foi sequer divulgado para o público? No Concílio de Nicéia, hoje na Turquia, reunido em 325 por iniciativa do primeiro imperador cristão, Constantino, a igreja limitou a quatro os evangelhos transmitindo os ensinamentos de Cristo, ou seja, aqueles atribuídos a Marcos, João, Lucas e Mateus. Cerca de 30 textos, alguns deles conhecidos, foram descartados porque não estavam de acordo com o que Constantino desejava como doutrina política.

De acordo com especialistas, o Evangelho de Judas colocaria em questão certos princípios políticos da doutrina cristã e permitiria uma revolucionária reabilitação de Judas, que durante séculos carregou o estigma de traidor e assassino de Jesus.

Ao lado, vemos um dos raríssimos fragmentos de um manuscrito copta do Evangelho de Judas. Esse Evangelho era o principal escrito de uma seita gnóstica, chamada de Iscariotes, a qual se baseava na doutrina da Aniquilação do Eu, e disseminou-se muito no Egito, norte da África e em algumas regiões da Europa medieval. Infelizmente, todos os documentos acerca da “Igreja de Judas” e seus membros (os Iscariotes) foram destruídos, restando apenas, em todo o mundo, menos de uma dúzia de pequenos fragmentos que atestam que verdadeiramente essa “seita” gnóstica existiu. Outra prova da existência dessa “Igreja” é o ataque de Irineu, um teólogo católico, em sua obra antignóstica Adversus Haereses, contra essa seita dos iscariotes e seu Evangelho Segundo Judas.
Esse Evangelho de Judas era a base de outras seitas gnósticas independentes, tais como os cainitas (erroneamente chamados de adoradores de Satã ou mesmo de vampiros) e dos marcionitas (seguidores do Mestre gnóstico Marción).

Irineu, nesse seu escrito antignóstico, sustentava que o Evangelho de Judas era una “história fictícia” que a seita dos cainitas (seguidores de Caim) havia escrito “ao estilo dos evangelhos”. Os cainitas (segundo o próprio Irineu) acreditavam que Judas tinha conhecimentos secretos, e que a meta de Judas era “causar confusão nos céus e na terra”.
Para polemizar ainda mais, procure informações sobre o livro O Voo da Serpente Emplumada 
(imagem abaixo)
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