Segundo a mitologia grega, Cérbero era filho de Tifon e de Equidna, inimigo de Zeus (Júpiter para os romanos), e irmão de outro cão, chamado Ortros, e da Hidra. Da sua união com a Quimera, nasceram o Leão de Neméia e a Esfinge.

Segundo Immisch, é possível que Cérbero, inicialmente, tivesse sido a serpente Hades, o rei do mundo dos mortos e não, como se imaginava anteriormente, uma derivação da cabala védica, um dos cães do Saramaia, que a mitologia hindu situava no Inferno. A hipótese da natureza primitiva de serpente do cão Cérbero, baseia-se nas cabeças de serpentes que saem de todo o seu corpo, principalmente da cabeça, da cauda e das patas.


Guardião do Reino dos Mortos

Quando os homens morriam, eram transportados na barca de Caronte para a outra margem do rio Aqueronte, onde se situava a entrada do reino de Hades. O acesso estava vedado por uma porta de diamante, junto da qual Cérbero montava guarda.


Este incorriptível e feroz animal, não só atormentava as almas que tentavam escapar do inferno, como também as que ali penetravam. Sófocles representa-o saindo do seu antro com muita freqüência para latir. Para lhe acalmarem a fúria, os mortos jogavam-lhe o bolo de farinha e mel que os seus entes queridos haviam deixado nos túmulos.

 Um Cão que comia gente

Na Antigüidade, Cérbero era considerado um cão que comia gente e, para muitos, é por esta crença que o nome kérberos (cérbero) é a mesma coisa que kroboros (comedor de carne). Esta mesma interpretação poderia explicar certos episódios da lenda de Cérbero, como o de Pirotoo que, como castigo por ter tentado seduzir Perséfone, foi entregue ao cão para ser devorado por ele. A voracidade do animal era confirmada por um dos suplícios infernais, que consistia em que ele comesse os corpos dos condenados. Este suplício poderia ser uma das muitas formas que simbolizavam a consumação dos cadáveres pela terra. E, portanto, teria o mesmo sentido que Thanatos, que chupava o sangue dos mortos, que Eurímono, que devorava cadáveres, e que certos nomes de Hécate, representada chupando o sangue e mastigando o coração e a carne dos mortos.

A morfologia de Cérbero

 Apesar de Cérbero ser o cão mais conhecido de toda a Mitologia, existem muitas discrepâncias quanto à sua morfologia, começando pela cabeça, não tanto quanto à forma, mas sim quanto ao número. As fontes da Mitologia dão versões diferentes, descrevendo-o como um cão como uma, duas ou três cabeças. Em algumas passagens da Teogonia de Hesíodo, atribui-se a ele até cinqüenta, enquanto que em outras só se reconhece uma. Autores antigos, como Horácio e Licofrone, chegam a atribuir-lhe nada menos que cem cabeças. Em todo o caso, a versão mais comum representa-o com três.

Quanto à forma da cauda, também lhe atribum as mais variadas aparências. Às vezes é como a de um cão, outras vezes como a de uma serpente, outras ainda como a de um leão.

A imaginação popular concebia-o como uma criatura espantosa. É com este mesmo caráter, que aparece representado nos monumentos e objetos de arte helênica, umas vezes com uma só cabeça de cão e uma infinidade de cabeças de serpente saindo do corpo, principalmente no lombo, e outras com duas cabeças de cão, mais frequentemente três, umas vezes iguais, outras diferentes; finalmente, embora não com tanta freqüência, com uma cauda de leão que em outras representações é de serpente ou de cão.

Hércules domina Cérbero

O último dos 12 trabalhos de Hércules (Herácles para os gregos), foi levar a Euristeu o monstruoso cão que guardava a entrada do inferno. O semideus já precisara enfrentar outros animais nos seis trabalhos anteriores. Tivera que matar o Leão de Neméia e a Hidra de Lerna, pegar o veado de Enae e, em seguida, o javali de Erimonte, caçar as aves do lago Esinfale, capturar o touro de Creta e as éguas de Diomedes, e roubas  manada de bois de Geriones, que era guardada por Ortos, o cão bicéfalo, irmão de Cérbero.

Hércules fora bem sucedido em todos esses trabalhos, sem fracassar em nenhum como esperava Euristeu, que tinha ciúmes de sua força e fama e temia que ele o destronasse. Assim, decidiu encarregar Hércules de um novo trabalho, no qual não serviriam para nada sua heróicas virtudes. Por isso, obrigou-o a enfrentar o cão de guarda do Reino dos Mortos, imaginando que ele não conseguiria vencer um animal tão monstruoso.

Para realizar seu novo trabalho, a primeira coisa que o semideus fez foi informar-se como chegar, em absoluta segurança, ao mundo dos mortos. Uma vez ali, libertou Teseu e Ascáfalo e, depois, apresentou-se diante de Hades, deus do Inferno, que se recusou, terminantemente, a deixar que lhe levassem Cérbero. Então Hércules disparou sobre ele uma seta que feriu-lhe o ombro; Hades concordou em entregar o cão, mas na condição de Hércules dominá-lo usando apenas as mãos, com o corpo protegido apenas com a couraça e a pele do leão de Neméia era/seria invulnerável. Ou seja, ela era a própria couraça de Hércules. Aliás, o próprio leão seria um dos irmãos de Cérbero.

Hércules agarrou o cão pelas patas e, passando-lhe os braços pelo pescoço, manteve-o bem apertado, com a serpente que era a cauda do animal mordendo-o repetidamente. Nem mesmo assim Hércules soltou a presa, apesar da dor que sentia, acabando, finalmente, por dominar o monstro. Então, subiu à terra pela porta do Inferno e, quando Cérbero viu a luz do dia, começou a cuspir baba, brotando dela uma planta venenosa chamada acônito.

Hércules levou Cérbero a Euristeu que, quando o viu ficou tão aterrorizado que correu para esconder-se numa jarra de bronze. E como o rei não soubesse o que fazer com Cérbero, Hércules devolveu-o ao mundo dos mortos e ao serviço de seu dono, Hades.


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